sábado, 5 de março de 2011

Agora vai. Vou.

Depois de decidido, "eu vou mesmo" toda a perspectiva muda. Tudo deu certo -até o momento- e começa-se a preparar as coisas e a pensar no que levar, o que não levar, o que fazer quando chegar, o que fazer antes de ir.
Foi interessante ver a mudança de pensamento, antes de fechar negócio a idéia é "Quero muito ir, tem que dar certo, farei isso e isso", depois de fechado tudo muda para "Será que fiz a coisa certa? É o momento? E se eu me arrepender?". Mas calma!
A primeira coisa que fiz foi esquecer essas dúvidas e pensar que nada podia deixar de me agregar porque qualquer experiência que se tenha, ruim ou boa, te acrescenta de alguma forma.
É legal e assustador ao mesmo tempo, à todo segundo você vê seu pensamento se voltando para a viagem, vira obsessão. Como ficou decidido que eu iria quinze dias antes, foi mais terrível ainda, a partir do momento de assinar o contrato com a escola começava uma contagem regressiva de apenas 15 dias.
Eu esperava sair do Brasil no dia 23 de março, mas como escolhi a Irlanda, e a maioria das pessoas sabe que o país tem passado por um momento de recessão financeira, a lei estava prevista para mudar dia 1 de abril, e vai mudar mesmo, e não daria tempo de retirar meus papéis e provavelmente seria extraditada. Acabamos achando passagem para o dia 1 de março, e cá estamos.
Quem quer vir para morar na Irlanda DEVE FICAR ATENTO COM A NOVA MUDANÇA DE LEI, a partir do dia 1, para morar aqui, você deverá ter em sua conta corrente - Bank of Ireland - a quantia de 3.000 euros (estou tentando achar o símbolo do euro no meu teclado, quem souber avise,rs). Tem mais algumas regras que irão mudar, mas para nós brasileiros, a parte da grana é a que mais interessa por isso coloquei, pode até ser que eu faça um post destinado à essa mudança.
Vou colocar à seguir uns dos pensamentos que tive quando fui visitar minha família no norte do Paraná, para me despedir, dá pra perceber meu estado de espírito, extremamente melancólico:

Diário de bordo da minha última viagem dentro de território brasileiro.

C. P., 24 de fevereiro de 2011.

Saudações à quem se interessar,

A viagem acabou antes do que pensava, terminou de forma triste, mas quando se trata de despedida, nada feliz vem à memória.
Estou num misto de sentimentos: pensamentos soltos, outros presos à sentimentos de culpa e ao mesmo tempo, sensação de dever cumprido.
Depois de tanto tempo ensaiando vir à casa da Vó, do Pai, dos Amigos, devia ter saido com alegria, mas estou indo com a culpa de não poder vê-los por mais tempo. Cada segundi foi precioso, sagrado, divino.
Neste momento, 22:26pm, estou sentada na, para mim já velha, Nova Rodoviária de C. P., minha cidade natal. Meus olhos ora fixos no papel, ora meditando no teor da escrita olhando diretamente para o Cristo Redentor*, radiante, como sempre foi desde que era miudinha.
Essa viagem está sendo marcante, fazendo parte da contagem regressiva para a maior experiênica da minha vida. A maior.
Último pão de queijo do Soledade**, último banho ao som de Oasis em Londrina, última vez que da plataforma 49 vejo o prédio que morei durante 7 anos. Prometo que não é a última vez definitiva, mas última vez antes de qualquer experiência européia.
Como dói pensar que não vou poder voltar correndo para casa, como aconteceu agora, vai doer demais ficar longe da minha mãe.
"Deus, prometa para que andarás comigo todos os dias. Eu te amo mais que tudo."
Meu maior medo mudou de rumo agora. Não tenho mais o mesmo pensamento que antes: Morrer sem ter aproveitado o mundo, sem ter conhecido, caminhado, comido tudo o que quis. Parece tão fácil alcançar isso que dá a sensação de dever cumprido, posso morrer depois que a aventura acabar. Mas NÃO! O pensamento agora é: Medo de morrer sem ter aproveitado o amor da minha família, porque eles sim, se importam.

O ônibus chegoum hora de partir. Beijos.

*Cristo Redentor: http://farm4.static.flickr.com/3564/3797192428_df197c6e94.jpg
**Soledade: http://onibusbrasil.com/pedroka/270848/

Que esse post sirva de inspiração para quem está pensando em desistir, vale a pena!!
Voltarei para contar como foi chegar aqui. Beijos.